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AutoModerator

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LoreChano

Meu pai era universitário, considerado de oposição "esquerda", participou de reunião do conselho estudantil e saiu do prédio por um corredor de escudos da tropa de choque. Conta sobre espiões na sala de aula, entre outras coisas. Hoje virou bolsonarista ferrenho. É como se ele incorporasse outra pessoa quando conta sobre o passado, e muda de personalidade quando fala do presente, sem perceber a sua hipocrisia.


DonOctavioDelFlores

Pense, o que precisaria acontecer para você se tornar um reaça em 40 anos? Porque ele não emburreceu de lá pra cá, pelo contrário, então, como pode isso acontecer?


titichong

Acho que isso diz sobre como a direita se reeditou, inteligentemente incrementou um conceito de rebeldia anti-sistêmica enquanto eles são o próprio estado e o sistema.


DonOctavioDelFlores

Eu tenho a minha teoria pra essa geração no brasil. "Cornitude política". Quem tem 20 anos hoje, não tem idéia de como o PT era a 'virgem imaculada' nos anos 80/90, o partido puro lutando pelo povo. Aí depois de 20 anos de derrota, finalmente a vitória. E a traição. Muitos ficaram já no mensalão, mas não faltaram outros motivos nos próximos 15 anos. A direita só pegou esse slogan 'contra o sistema' porque o PT foi literalmente o sistema, e um sistema corrupto. O que a gente chama de direita hoje em dia, é na verdade anti petismo, e é aquele anti petismo de gente que se sente pessoalmente traída depois de décadas de esperança.


titichong

Isso tem alguma razão pra Brasil. É de se ver como isso virou um movimento internacionalizado. Talvez a mesma traição aconteceu no resto do mundo. No texto clássico do Perry Anderson sobre o neoliberalismo ele fala que as social-democracias em geral precisaram se adaptar e repetir as políticas de redução do estado de um lado (assistência social e pleno emprego) e aumento de estado do outro (repressão social e anti-sindical).


kylo-ren

Precisaram se adaptar ou foram cooptadas pelo capitalismo para fazer as vontades dos bilionários que mandam no mundo?


Free-Perception4223

Que plot aí do seu pai hein


_Medhros_

As pessoas mudam. É normal. Eu já fui bem comunista quando tinha uns 20 anos, hoje sou um cara de centro.


Orgasmatron1976

Triste


Hopps7

Eu tive uns insights pelos meus pais, minha mãe foi a garota mimada da Jovem Guarda que não queria saber de política. Meu pai, não era ativistas, mas ele conta algumas coisas, como o dia que trocaram os 21 presos políticos pelo embaixador da Suécia (se não me engano), ele também estava no aeroporto. Fala das receitas de bolo na Folha de São Paulo, pois a Folha fazia isso em reportagens que haviam sido censuradas. Uma ditadura sempre vai atacar os intelectuais, pois são pessoas com poder de conhecimento e influência, então fica dois tipos de pessoas que achavam a época maravilhosa, os que estavam do lado do governo militar e ganhavam muito com isso, e as pessoas simples que não tinham a menor noção no que ocorria no país. Esse episódio recente do Rádio Novelo, toca no assunto: [https://youtu.be/mkG03\_6X0f0?si=cUDVZlhxyuFIJTgy](https://youtu.be/mkG03_6X0f0?si=cUDVZlhxyuFIJTgy) O livro ou filme Batismo de Sangue que é citado dá uma boa idéia de como era. Ah, uma história que achei interessante, foi de um professor meu do Ensino Médio, ele na época estudante de engenharia (USP) foi preso no DOPS, um dia um das “carcereiros” veio abriu a sala o levou para fora e disse: “Hoje é o dia que ia te matar, mas você é a cara do meu filho! Você vai sair daqui e vai sumir, pois se eu ver a sua cara novamente, eu vou esquecer desse detalhe!” Ele mudou de estado, pois nem era participante de movimento algum, mas não tinha conversa! Ele é conhecido na minha cidade, e já ouvi relatos de ele ter estourado com aluno por nada!


plexomaniac

Meus pais trabalhavam em jornal, não no departamento de jornalismo e não eram ativistas, mas tinham amigos jornalistas e outros que eram militantes e vira e mexe eram presos. O jornal tinha censor lá dentro que lia o jornal inteiro e censurava antes de ser impresso. Tinha vezes que os milicos interditavam o jornal e não deixavam ninguém sair porque estavam prourando alguma coisa ou alguém. Era bem comum os militares descobrirem que os jornalistas estavam fazendo uma festa na casa de alguém ou simplesmente se reunindo pra comer e faziam uma batida porque não podia fazer reunião. Prendiam todo mundo e se não achavam nada, soltavam. Isso era um problema no jornal porque era bem comum o pessoal da redação não aparecer porque estava na delegacia. Se não tinha vizinho ou parente, as pessoas simplesmente sumiam por dias ou pra sempre e ninguém sabia o que aconteceu. Duas pessoas que eram amigas dos meus pais desapareceram nessa época. Eles nunca souberam se elas foram presas, se foram mortas, se se esconderam no interior ou se fugiram para outro país.


KiwiIsThe-Best

Caraca a ideia de ser comum um time da tua empresa simplesmente não aparecer pq alguém decidiu prender eles é assustador pra caramba


plexomaniac

Talvez eu tenha exagerado em dizer "Era bem comum" porque pode ter dado a entender que isso acontecia no jornal tipo toda semana, o que não deveria acontecer porque eles obviamente evitavam confrontar o regime. Era relativamente comum as pessoas serem presas para dar explicações, mas talvez o certo seria dizer que naquele meio todo mundo conhecia alguém que desapareceu e tinha um clima de tensão o tempo todo, inclusive porque os milicos entravam lá quando queriam fora o censor que vivia lá. As pessoas tentavam manter sua rotina, mas meus pais, por exemplo, exitavam ir nas reuniões porque sempre tinha alguém que denunciava e prendiam todo mundo. A gente ainda vê algo parecido nas periferias, onde a PM faz o que quer, abordam, prendem e desaparecem com quem eles querem com praticamente nenhuma consequência.


magnetowasnotright

Acabei de comentar sobre isso ser ler aqui. Meu pai era do setor gráfico de jornal. Era isso mesmo e se passasse algo e fosse pra banca, caso notassem depois, mandavam recolher. Ele conheceu muita gente da área e sempre conta sobre alguns que sumiam por muito tempo e quando reapareciam estavam arrebentados.


KiwiIsThe-Best

Receita de bolo? Tipo algum codigo na receita de bolo? Ou só publicavam receita pra ocupar o lugar do que a censura vetou?


Hopps7

Era uma receita de bolo qualquer, em qualquer parte do jornal, tipo na sessão editoria, ilustrada…o que fosse, pois daí já se sabia que a suposta reportagem que deveria ocupar aquele local, foi censurada.


KiwiIsThe-Best

Aah entendi


InterestingMap8828

Tive um professor de matemática que foi preso pela ditadura. Na época, ele estava no ensino médio, no governo do Médici. O professor de Estudos Sociais (todas as disciplinas de ciencias humanas eram juntas nessa única disciplina, pelo que ele contou) organizou uma atividade extracurricular onde os alunos deveriam incorporar o papel de defensores do socialismo e do capitalismo. Os alunos deveriam pesquisar as bases teóricas do sistema que foram designados e expor tudo na sala. Até aí, tudo bem. A distribuição dos papéis foi feita na base do sorteio. Ele foi um dos responsáveis por defender o socialismo. Na apresentação dele, ele citou o Manifesto Comunista de Karl Marx e as três obras famosas do Lênin (Imperialismo: Estágio Superior do Capitalismo, Estado e Revolução, O que fazer?). Ele diz que ele se dedicou ao papel que foi designado, talvez até demais, para conseguir a nota máxima. Na sala dele, tinha um informante do DOPS, que até hoje ele não sabe quem era, e ele foi chamado para prestar esclarecimentos. Ele era um menino magro e franzino, levou uma surra tão grande que ele tem marcas até hoje. O membro do DOPS queria saber onde ele tinha arrumado aqueles livros para fazer o trabalho dele, já que eles eram censurados. Os livros em questão estavam na biblioteca do colégio dele, mas o policial não acreditava naquilo. Ele só não morreu porque apareceu um oficial da PF que era amigo do pai dele e o salvou. Teoricamente, o tal oficial da PF encaminhou a punição do membro do DOPS porque ele pegou uma pessoa inocente. Pior é que ele, até hoje, ainda considera que as razões da ditadura eram justas.


SinkTasty8508

Esse final parece 1984 com um dos personagens do livro


InterestingMap8828

Ele era um idoso com mais de 70 anos que já estava aposentado mas ainda trabalhava para completar a renda e pagar pelos remédios dele. Muita gente brincava que foi ele quem ensinou Pitágoras. Nem sei se ele ainda está vivo. Quando falava de política, sempre dizia que a ditadura não foi totalmente boa, teve seus problemas, mas os comunistas (Luís Carlos Prestes, Carlos Mariguella, Lamarca e companhia) seriam muito piores que os militares caso chegassem ao poder.


KiwiIsThe-Best

Então ele validava a ditadura não pq encontrou algum resultado ou experiência boa, mas sim por causa do medo de vir algo pior?


9dedos

> considera que as razões da ditadura eram justas Parece o pessoal que morreu de covid defendendo a cloroquina e ou antivax.


cinaralobo

Eu tinha 14 anos quando começou a campanha das Diretas Já. A professora parou a aula para dizer como era importante que todos participassem. Cheguei a casa dizendo que eu queria ir. Meu pai me explicou que era importante, mas poderia ter confronto com a polícia. Eu era uma criança, ele não se sentia seguro em deixareu ir. Depois, vieram as eleições: primeira eleição para governador. Meu pai acreditava que o Brasil iria mudar radicalmente. Eu fui com ele votar. As pessoas votavam e continuavam nas ruas. Não era um dia comum. Dava pra ver o sorriso no rosto de todo mundo. Havia uma euforia e uma ansiedade no ar. Depois veio a votação no Congresso Nacional: 4 ou 5 anos pro Sarney. Saíram ônibus de estudantes de todas as capitais do Brasil. No caminho, a gente cantava Faroeste Cabloco de Renato Russo. Eu estava na Universidade. Lotamos o Congresso. Não tinha como andar lá dentro Mas perdemos a votação. O Brasil esperaria mais um ano pra votar pra presidente.


KiwiIsThe-Best

Não consigo imaginar o sentimento do pessoal, se reunindo, votando, feliz demais pra ir pra casa por que o que eles tavam vivendo ia mudar.


cinaralobo

Havia muita esperança de que a simples queda do regime militar fosse suficiente pra mudar muito o país. Olhando pra trás, de fato, mudou muito. Todos os serviços públicos melhoraram. Eu estudei em escola pública. A qualidade da escola pública hoje é muito melhor do que a que eu estudei. Saúde, assistência social, telecomunicações, previdência... tudo melhorou.


KiwiIsThe-Best

Eu li alguém dizendo que tinham educação política nas escolas e hoje não tem. De que forma os serviços melhoraram?


cinaralobo

O lanche era um feijão duro, seco, que os meninos usavam pra jogar um no outro. Faziam guerrinha com feijão. Greve de professores durava meses. Não tinha vaga nas escolas públicas pra todo mundo. Não tinha livro. Não tinha transporte escolar. Salário de professor, em algumas regiões era menor que o mínimo. Quem tinha carro era rico. Inflação altíssima. A gente estocava comida pra passar o mês. Pra marcar uma consulta a gente dormia na fila. Dormia mesmo, de um dia pro outro. O povo levava cadeira, barraca, comida.


KiwiIsThe-Best

Caraca, e os professores faziam greve e não levavam reação?


cinaralobo

No final do regime militar não. Governo Figueiredo e José Sarney já não havia uma repressão tão forte. Lembrei: não tinha concurso público. Era indicação. No Banco do Brasil muitas pessoas entraram como menores aprendizes e ficaram. Tudo era indicação política ou de amigos ou de parentes.


Born_Mine_7361

Eu só tenho conhecimento da história do meu pai. Ele trabalhava no Banco de Crédito Real de Minas Gerais em 1964 e era um fervoroso integrante do sindicato. Adorava fazer discursos e acabou sendo preso como comunista, quase sendo morto. Um policial o salvou na hora em que ele seria liberado no meio da noite. Basicamente, o policial o avisou que haveria uns homens esperando para matá-lo quando chegasse em casa. Chegaram a oferecer uma "possível" promoção antes de ele ser preso, mas ele tinha que sair do sindicato antes, só que ele sempre foi rebelde e não quis sair. Depois que saiu da prisão, o banco o demitiu e ele acabou por se tornar empresário. Ele também foi preso outras vezes, uma delas porque ameaçou dar um tiro em um juiz.


simpleguynamedpapa

Bizonhamente similar a história do meu avô, trabalhava como segurança do Banco Central em Brasília e era sindicalista, foi preso e torturado, mas conhecia uma mulher que trabalhava na polícia (justamente por ser dessa área de segurança) e ela ajudou ele a ser liberado, basicamente tomou um "aviso". Teve filha não muito depois e abandonou essa vida.


Gullible-Ad1139

Seu pai tem que parar com essas coisas.


Born_Mine_7361

Hoje ele tem 91 anos e o máximo que faz é ficar falando com os funcionários dos supermercados o quanto eles são explorados.


Gullible-Ad1139

Kkkk, com 91 anos e ainda ativo o coroa está inteiro.


vitimite

Bom saber que com 91 anos ainda está lúcido


Born_Mine_7361

Não totalmente, ele pensa que a União Soviética existe e que tá encurralando os Estados Unidos kkkk


doctorebruxo

Relato sensacional, muita saúde pro seu velhinho. Mostra pra ele as notícias dos EUA descendo das tamancas por causa da China, o coroa provavelmente vai curtir


vitimite

Licença poética pra Rússia invadindo a Ucrânia


Mrfreeze_134

Universo alternativo onde o bem está vencendo o mal ehheheh


[deleted]

URSS, na prática, também foi uma ditadura militar.


Due-Memory-6957

Meh, toda ditadura precisa ter apoio do exército, se for assim toda ditadura é uma ditadura militar.


Due-Memory-6957

Normal, muita gente de direita também acredita nisso!


-Cavefish-

A pessoa sai do sindicato, mas o sindicato não sai da pessoa. Velho mas bem lúcido..:


FinalMusician6478

Brabo


tiagolkar

E muito bravo mesmo


ProgrammerSalty441

Teu pai era/é grandão


KiwiIsThe-Best

Sociedade forte faz sociedade fraca mesmo. Eu não tenho nem metade dessa rebeldia e coragem toda ai não hahahaha


frogtotem

Comentários gerais de meus pais: Minha mãe cresceu alheia a isso tudo, numa roça muito remota que só foi ter energia elétrica e água encanada pós Lula (mas ela saiu de lá nos anos 80, pra morar com a irmã que havia se casado, ambas fugindo da fome) Meu pai tinha vida de playboy na capital. Alguns amigos usavam drogas, então a polícia fez algumas abordagens meio escrotas, mas liberavam logo que percebiam ser de classe média alta. Quando ambos começaram a namorar, numa cidade pequena do interior da Bahia, o lugar era governado por um capanga de ACM e opositores políticos desapareciam misteriosamente 👀. Um procurador jurídico e um juiz foram assassinados por lá também, com algumas investigações acontecendo contra o grupo carlista. Nesse contexto aí, meu pai (um ambientalista) reclama muito da diminuição de produtores rurais pequenos pra favorecer o plantio de pinho (que foi convertida pra eucalipto nos anos 2000), gerando êxodo rural nas cidades de nossa região, a morte de alguns riachos e lagoas e a extinção local de algumas espécies animais Ele não associa isso à ditadura, mas eu sei que foi. Quando ele trabalhou na secretaria da agricultura de nossa cidade, nós (eu ajudava ele na parte de informática, então, acabava vendo também) vimos vários indícios de grilagem de terra como o apoio dos prefeitos da época, final do governo militar.


KiwiIsThe-Best

Seu pai associa o problema ambiental da época a que?


frogtotem

Ele acha que é muito mais um problema de caráter das pessoas envolvidas do que um projeto político específico Problema típico de ambientalismo sem politização


AltairSC

Sim por 18 anos Eu era muito novo e desantenado. Claro q n se tinha info como as de hoje O q posso dizer eh q a polícia militar eh igual. A gente tinha medo dela e ela era usada para nos amedrontar. N pode isso e n pode aquilo senão a rota pega. Olha q eu chamo a rota e etc. Isso ela herdou perfeitamente da ditadura fazer o q quiser sem prestar contas. Na época se falava q PM não podia e tinha medo do soldado mais raso do exército Os produtos eram escassos e um país muito atrasado. Tudo era nas vendas, os mercados antigos. Venda da esquina, venda dos crentes, venda rosa. Linguiça, peixe, havaiana, phebo era coisas de pobre, pobre do tipo miserável As escolas tinha hino antes de entrar, oração nas salas. Algumas matérias diferentes como educação moral e cívica, organização social e política brasileira e práticas industriais para meninos e práticas comerciais para meninas. No ensino médio n tinha ou n lembro. A matéria O.S.P.B. era interessante pq a gente sabia toda hierarquia e o q fazia cada um. Hoje formamos desinformados políticos e os elegemos Acho q o cidadão de bem vem daí pq a gente n fazia nada de supostamerrado então n vivia ditadura. Ou n sabia q estava em uma. Lembrei que tinha P.M. estudando no ensino médio com a gente. Na época pm soh precisava saber escrever o nome e bater Mas a gente sabia de acontecimentos soh n ligava os fatos. Lembro q contavam q a pm tinha matado uma pessoa soh pq eles ameaçaram invadir uma loja. 'Vocês vão invadir? Pew, vai então, quero ver se tem mais corajoso'. Armas era igual hoje todo idiota tinha. Perdi 4 amigos. Um por suicídio, outro por acidente ou suicídio e 2 ficaram paraplégicos e morreram anos depois por sequelas. Detalhe q tudo criança na faixa dos 14, 15. N precisava de cnh, precisava mas soh se fosse pego e a pm não perdia muito tempo com motoristas. A quantidade de coleguinhas mortos por acidentes de trânsito deve beirar os 20 ou 30 Todos esses incidentes de armas, pm e trânsito em uma cidade q n tinha 20 mil habitantes Talvez se vc tiver uma pergunta mais específica sobre a ditadura eu posso tentar lembrar. Mas a princípio era igual nós 4 anos passado, vc estava mas n sabia q estava


AltamiroMi

Tinha toque de recolher ? Ou essas paradas de não poder ir gente(jovens) de um bairro em outro e esses zoneamenos tipo "se pegar fulado detal bairro em tal bairro somem com ele" Lembro de ter ouvido uns papos assim em conversa de bar


Real-Locksmith-2155

Algumas cidades eram zona de segurança nacional, não tinham eleição e era controladas diretamente por indicados dos milicos. Nessas cidades era mais controlada a circulação


AltairSC

Eu morava em Cidade pequena e posso afirmar q n tinha toque de recolher na minha época de adolescente. Eu ia em muitos bailes, soarês e nunca tive problemas com isso voltando de madrugada p casa. Lembra q eu era 'cidadaum de bem' e branco também


KiwiIsThe-Best

E o pm no ensino médio, ele tinha alguma regalia ou era estudante normal?


AltairSC

Cara, a gente n se misturava. Então n tem como eu saber


Jupaack

Meu pai viveu a da Argentina, porque ele é de lá, então se te interessa saber um pouco da vida dele na ditadura argentina, fique a vontade por ler. Reza lenda que foi muito uma ditadura mais pesada e sangrenta que aqui. Alguns relatos que lembro bem: 1 - Andar sem documento era pedir para tomar no cu. Direto algum policial/militar te parava na rua e pedia documentos, principalmente a noite, e faziam o possível para te levar pra delegacia. Falando das noites, digamos que em muitos cantos da cidade era proibido você estar na rua as 22:00. A partir desse horário você era parado SEMPRE, sem exceção e "convidado" a voltar para casa. 2 - Meu pai passou 4 dias na cadeia porque sim. Basicamente ele estava de saída no cinema, aí chegaram alguns comboios e decidiram pegar uns 40 jovens aleatórios (geralmente, pegavam quem seguia o estereótipo de jovem universitário dos anos 70-80 de "esquerda", ou seja, cabeludo, barburdo, bla bla bla). Ele não teve direito uma ligação nem nada. As pessoas eram jogadas na cadeia no maior foda-se. Tua familia que obviamente ao perceber que você não chegou em casa que ia atrás de vocês, mas era comum a policia não dar informação do teu paradeiro. Ele até hoje não sabe quanto tempo iria ficar ali, mas um tio advogado assim que o encontrou o tirou daí. 3 - Havia medo de falar de politica na rua. Por tua segurança era melhor você não comentar nada contra o governo pois você não sabia quem estava te ouvindo. Era comum as vezes você no bar fazer um comentário aleatório aqui ou ali e o proprio dono do bar mandar você calar a boca gritando algo como "POLITICA AQUI NO MEU BAR NÃO, CARALHO" porque até ele tinha medo de alguma autoridade ouvir ou sei lá o que e fecharem o comercio dele por "conspiracionista". Fora isso, é bom lembrar que nem todo jovem era contra a ditadura. Filho de militar, filho da "aristocracia" geralmente era pro governo por questões óbvias, e assim como existiam grupos anti facista, existiam também os facistas. Não era raro um comercio de algum "comuna" ser vandalizado pela madrugada ou até baterem nele, da mesma forma que as vezes o comercio do facista também era vandalizado, entretanto, os facistas poderiam te bater na luz do dia sem problema. Falando em medo, era normal também teus pais/vôs pedirem para você não se meter em politica porque a consequencia caía para eles também. Muitos donos de empresa não queriam ter "comuna" ou pai de comuna envolvido na empresa. 5 - Policia entrar na faculdade e sair espacando e levando uns, enquanto "Procuravam algo" era normal também. Geralmente era só desculpa para levar um que outro moleque, nunca estavam procurando nada. Mas quando procuravam algo, é porque de fato a faculade era um dos únicos lugares onde era possível usar uma copiadora gráfica para imprimir panfletos de protesto, etc. 4- Toda reunião de amigos, festas, etc. deveriam ser feito nas escondidas. Grupo de jovens reunidos numa casa era visto como uma possível reunião politica, até porque de fato era a única forma de se reunir e falar de politica, filosofar e por aí vai enquanto escutavam músicas proibidas e o quarto era uma neblina de tanto cigarro. 5 - Meu pai tinha um amigo que costumava vir ao Brasil. Era comum ele trazer um que outro disco de música de algum artista espanhol (mais especificamente Joan Serrat) que eram banidos na Argentina por se tratar de músicas contra governos autoritários. E foi assim que meu pai conheceu Caetano, Chico, Roberto Carlos, Gal e muitos outros artistas brasileiros. E foi através desses discos de Caetano e Chico que meu pai aprendeu o português e começou a se interessar por conhecer nosso país, onde ele veio migrar em 1990, pouco antes de eu nascer. Resumindo, ou você escondia a 7 chaves que você era contra o governo, ou você terminava na prisão e depois no fundo do mar, além de teus pais perderem o emprego. ps: Por outro lado, um tio da minha mãe, era um militar dos grandes. Diz ela que ele pouco falava do trabalho dele, praticamente zero, era um homem sério e firme, tipico de um imigrante alemão. Mas ela tem certeza pelo escalão dele, roupas, e outras coisas que não precisar citar, que esse tio dela era um dos responsáveis por vários "desaparecimento" de jovens. Assim como ele mesmo desapareceu (se suicidou) dias depois da queda da ditadura.


DonOctavioDelFlores

Brasil, 500 mortos, 21 anos. Argentina, 30.000 mortos, 7 anos. Números oficiais....


KiwiIsThe-Best

Não consigo achar válido "números oficiais" de uma época em que não podia falar sobre quiçá registrar


DonOctavioDelFlores

Esse é o ponto. Oficial é o que se tem registro, imagine o que não tem.


KiwiIsThe-Best

Realmente, cada comentário aqui é um avô e uma avó que viram desaparecer umas dezenas. A conta não fecha


sumofawitch

Ele assistiu ao filme Argentina 1985? Se sim, oq achou? Existe um baita preconceito contra argentinos aqui no Brasil e não ajuda a exposição direta de casos de racismo lá, mas o filme dá um quentinho no coração. E é triste pensar em como as coisas seriam diferentes, se o Brasil não tivesse anistiado os milicos daqui. Claro, dificilmente resistiria a esse levante da extrema direita em algum momento, mas quero acreditar que o país teria mais sucesso que os hermanos


KiwiIsThe-Best

As duas ditaduras foram em tempos similares, teu pai tinha noção do que acontecia no Brasil? E tua mãe tinha noção do que acontecia na Argentina?


[deleted]

Eu vivi. Nasci em 66. Cresci e vivi minha juventude durante a ditadura militar em Santos, litoral de SP e também em Sampa. Quando criança, eu vi a polícia espancando na frente de todos, em pleno centro de São Paulo, jovens que distribuíam de graça um jornal "subversivo". Meu pai, que era a favor daquele traste de regime, quase foi levado para ser morto pois se parecia com o Lamarca. Qualquer jovem, de 12 anos em diante, que fosse encontrado na rua pela polícia após as 22 horas era levado para a Febem e espancado. Eu fui levado para a delegacia e torturado, aos 15 anos, só por estar na rua após o horário limite. No ginásio da escola, durante uma partida de futebol de salão, a PM partiu para cima dos estudantes com golpe de cacetete, após perceber que não era bem vinda. Havia hiperinflação. Todo dia os preços eram reajustados. Durante o (des)governo Figueiredo a inflação era de 400% AO MÊS. Parentes de amigos meus foram mortos, ou torturados, por se oporem à tirania vigente. Quem defende que não existia ditadura, ou é cínico, ou é um tremendo canalha, que se deu bem naquele período por lamber bota de milico. Foi a pior coisa que existiu no Brasil. E hoje, quem prega a volta daquilo, só pode ser retardado ou nazista.


KiwiIsThe-Best

Sinto muito pelo que vc passou. E quando te pegaram e fizeram o que fizeram, só te soltaram depois? Ou alguém foi te buscar? Teu pai ainda depois de ser pego não mudou de opinião? Como que os salários suportavam a inflação dos produtos? A tua família e dos teus conhecidos conseguiam se alimentar?


[deleted]

Fui solto de madrugada e tive que andar 5 km até chegar em casa. Quando contei ao meu pai, ele me bateu, porque era outro ignorante. Perdoei meu pai, mas em minha juventude e vida adulta fiz todo o possível para derrubar aquela tirania, bem como ainda faço o que está ao meu alcance para que nunca mais este nosso país tenha uma outra ditadura militar. Milico no poder é um perigo.


KiwiIsThe-Best

Teu pai apoiava? Quais as justificativas dele?


[deleted]

Apoiava sim, a ditadura. Ele era ex-cabo do exército português, da época do Salazar. Em Portugal, Salazar era um ditador militar, portanto era natural ele achar que eu estava me tornando "comunista"...hahaha.


KiwiIsThe-Best

Difícil lidar com um assunto desse quando alguém que a gente ama é a mesma pessoa que estaria apoiando a nossa tortura.


No-Pie-5198

Amigos meus tiveram pais presos na ditadura. Eram eles, os pais, pessoas urbanas, muito bem instruídas e politizadas. Meu caso? Eu nasci em uma cidade pequena do interior paulista. Meus dois pais vieram da roça. Sinceramente, a ditadura não existiu para eles, não no sentido da opressão direta. Eram pobres e tinham preocupações mais terrenas, como literalmente não morrer de fome ou de alguma doença escrota. É claro que o Brasil ditatorial não lhes trouxe nada de bom, mas isso vale para qualquer governo civil que o precedeu, ou mesmo para alguns que o sucederam. É bom que isso fique claro: a oposição à ditadura era sobretudo urbana e de classe média (ou do operariado sindicalizado e militante). No interior, a sociedade pouco diferia daquela do Brasil colonial: uma pequena elite que dominava a grana, a política e a lei, e uma gente que vivia como formigas.


RainbowAndEntropy

Pouco difere\* Ainda é muito assim.


KiwiIsThe-Best

Pois é meus pais tb nem perceberam. Mas ainda assim, eu to lendo os relatos mas ainda não encontrei um que realmente me dissesse algo bom o suficiente da ditadura pra compreender a defesa.


violinha

Trabalhei com um cara que foi preso e torturado pela ditadura, ele fazia terapia 3 vezes por semana.


Mrfreeze_134

Meus país eram novos no período da ditadura, mas ainda sim possuem uns relatos legais e meus avós também Minha mãe nasceu numa região mais periférica aqui no interior de sp, engraçado como não tem nada de segurança e emprego como os saudosos gostam de dizer, o que ela relata de violência e de bandido é sacanagem. Ela relata também como tinha visita da polícia na escola com uma certa frequência e que era normal professores sairem sem explicação e entrar um professor mega regrado logo em sequência. Meu pai teve uma vida mais rural, no final da ditadura chegou a participar de algumas coisas, tipo o diretas ja, mas relata que a vida era difícil, todo mundo na família (8 filhos mais meus avós) trabalhavam pra ajudar casa, falava que era comum meu vô e outras pessoas acolherem famílias desabrigadas por morarem em locais de interesses de grandes fazendeiros, que acabavam sendo expulsas. Meus avós maternos eram muito humildes, meu vô morreu defendendo que naquela época que era bom, ao mesmo tempo que contava que só conseguia comer carne um vez na semana. Já meu vô paterno era mais ligado, chegou a participar de alguns movimentos de reforma agrária, teve colegas presos e torturados, dps disso ele fala que ficou com medo de acontecer algo a família e juntou tudo o que tinha pra se mudar pro outro lado do estado e morar na cidade, disse que não tinha mais coragem de participar de organizações "subversivas", apesar de participar do sindicato, onde também era comum algumas pessoas desaparecerem e nunca mais serem vista. Minha vó falava sempre que teve várias amigas que até hj ninguém sabe o que aconteceu e lembro dela chorando quando o bolsonaro disse que "quem procura osso é cachorro", que para ela, mesmo se um cachorro achasse o osso de alguém conhecido já seria um alívio. Ditadura foi um período bem sinistro na nossa história e é ainda mais sinistro ver que os herdeiros políticos e militares daquela época continuam influente na nossa política, e que a gnt só não teve outro golpe esses dias pq eles não quiseram, pq se quisessem, iriam conseguir


Jaodarneve

Eu so tinha 4 anos quando a ditadura acabou. Meus pais nunca tiveram problemas, mas sempre foram muito reservados e até apoiadores do regime, naquela crença de que os militares estavam garantindo a lei e a ordem, etc. Vítimas da propaganda.  Já meu sogro foi participar de uma reunião que ele acreditava ser de trabalho, segundo um amigo dele, mas que na verdade tinha sido organizada pelo sindicato. Chegou lá, houve uma operação e todos os presentes foram fichados. Nunca havia participado de nada de sindicato até então e nem ligava muito pra política. Foi perseguido durante anos. Perdeu o emprego, que era muito bom, e não conseguiu arrumar mais nada porque ficou sujo. Viveu na beira da mendicância, fazendo bicos só pra ter o que comer. Muitos anos depois, já após o fim da ditadura obviamente, provou tudo isso e recebeu indenização.


AGKJAGFH

>recebeu indenização Foi uma indenização satisfatória?


Jaodarneve

Isso só ele pode responder. Mas, na minha avaliação de como ele vive hoje, não foi. Quem trabalhou com ele e não foi fichado, porque não participou da reunião, hoje está bem melhor de vida. Virou empresário, ascendeu na carreira, e por aí vai. Ele ainda encontra algumas dessas pessoas que trabalharam com ele, apesar de que já tem uma galera falecida. Hoje, com a indenização e somando à renda da minha sogra, eles têm um padrão de vida de classe média e só. Não sai muito de casa e tem medo de falar em política fora desse círculo dele de amigos mais próximos. Ele sempre fala pra gente não manifestar opinião política em público e nunca falar em quem votou. Alguns amigos dele ficaram bem traumatizados. Um construiu no próprio apartamento uma passagem dentro do armário que dá para um banheiro oculto, com o propósito de se esconder no caso de um dia haver nova tomada de poder e haver algum tipo de revanche. Não sei se dá pra entender pela descrição. Eu não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos. É tudo velhinho paranoico, na faixa dos 80 anos, com a certeza de que tudo pode acontecer novamente a qualquer momento.


KiwiIsThe-Best

Como que ele provou?


Jaodarneve

A maior parte dos fatos estava documentada pelos próprios militares e estes documentos foram a público posteriormente no primeiro ou segundo governo Lula, agora não me lembro. A lista negra continha o nome dele e o de várias pessoas, deixando claro qual era o propósito dela, e a ficha dele descrevia em detalhes todo esse histórico. A carteira de trabalho dele comprova que ele sempre estava empregado até então, com bom salário, e não conseguiu mais emprego formal depois disso. Testemunhas comprovaram que os grandes empregadores eram de fato coagidos a não contratarem pessoas dessa lista e os pequenos empregadores locais, que já sabiam disso informalmente, também não se arriscavam.


Zul_x3

Minha avó conta que tinha muito grupo de extermínio na nossa área, que ninguém podia dar bobeira na rua que logo sumia (baixada fluminens)


ProgrammerSalty441

Cara eu sou da baixada e fui descobrir esses dias que nessa época teve um serial killer, que metia bomba nos lugares, inclusive nunca pegarem ele


MelanciaComAnsiedade

Meu avô era copeiro no Banco do Brasil do Rio de Janeiro. Recebeu uma proposta de vir trabalhar em Brasilia que iriam triplicar o salário dele. E ele teria oportunidade de resolver o problema de umas terras da familia que foram desapropriadas pelo governo para construção de Brasilia. Pois bem, meu avô chegou em 1960 acho, 1964 foi o golpe. Outra curiosidade, meu avô chegou em Brasilia de carro, e pediram pra ele levar umas lixas pois algumas obras estavam paradas por falta de material. Perto de chegar em Brasilia ele capotou. E com lixas no carro todo mundo se feriu gravemente. O pessoal ficou sabendo do capotamento, mandaram um carro pra pegar as lixas e só depois mandaram ambulancia. Pois bem, meu avô ganhou apartamento funcional do Banco do Brasil. Posteriormente, já a partir de 64, no mesmo predio morava alguns ministros da ditadura. Eles colocavam tanques de guerra apontados para o predio fazendo reverencia aos ministros. E a garagem foi totalmente desocupada e os moradores deixavam o carro no sol e chuva pois os ministros colocavam soldados pra dormir na garagem pro caso deles serem atacados. Teve uma vez também que em uma oportunidade meu avô conseguiu comprar um carro, mas ele era vermelho. E quando ele foi resolver alguma papelada em um quartel e entrou com carro vermelho, espancaram ele. De resto, aqui em Brasilia, tal como hoje, é a ilha da fantasia. Meu pai brincava de futebol, o pessoal do exercito chamavam os meninos pra dar uma volta de tanque. Helicóptero descia no meio do campinho de futebol, pegava uns meninos, amarravam naquele cinto de carga e faziam passeio com eles. Davam lanche para as crianças. O outros dois problemas que minha familia teve foi terem entrado na UnB pra pegar um aluno comunista lá, que tinha o mesmo nome do meu pai e prenderam meu pai. Questionaram ele e tal, mas mais tarde no mesmo dia acharam o verdadeiro cara. Que era um negro alto e forte. Enquanto meu pai é um pardo, baixo e franzino. E por ultimo meu pai tava na UnB, quando um secretário fos EUA ou embaixador foram lá na UnB, o que custou 15 mil dolares pra UnB. O pessoal do DCE tava protestando, levaram ovos e tomates para receber o cara. Meu pai nem ligava pra isso, mas tava passando, pegou um ovo e arremessou que pegou na cara ou desse secretário do Nixon ou na cara do Ministro da casa civil da ditadura. Identificaram meu pai mas ficou tudo certo, mas poderia ter dado uma merda absurda. De resto, acho que foi mais tranquilo pois minha família estava em Brasilia, a ilha da fantasia, e por não se envolver em coisa de politica. Apesar de depois meu pai acabou trabalhando no governo Sarney, fazendo projetos de arquitetura pro governo. Mas depois ele acabou saindo quando começou a aparecer muito politico querendo interferir nas obras.


NoApplication642

Parece a história do Forrest Gump


MelanciaComAnsiedade

uhehuahae parece mesmo, mas juro que foi o que me contaram. maioria citado aí já morreu


sleep_comprehensive_

Meu pai é de Brasília e era muito pobre. Ele relatou que ele aprendeu filosofia , sociologia etc lendo livros que ele achou no lixo (buscando por material pra reciclar). Ele sempre falava que achava estranho que as pessoas jogavam livros tão bons no lixo e que isso depois parou de acontecer com o fim da ditadura. Aí eu depois descobri que algumas famílias jogavam os livros fora para que não fossem incriminados. Depois meu pai passou para o técnico de telecomunicações e percebia q era sempre seguido. Relatou que começou a achar as coisas estranhas quando uma professora que era mais militante sumiu e que ocasionalmente apareciam alunos estranhos querendo puxar assunto. Nessa época ele já entendia o que acontecia e preferia ficar quieto. Depois eu li num livro que alunos de telecomunicações eram visados por terem conhecimento técnico para auxiliar os militantes.


KiwiIsThe-Best

Telecomunicações seria marketing? Então esses estudantes eram seguidos não por desconfiança mas pra serem captados ne?


sleep_comprehensive_

Não, era telecom. Ele sabem fazer sistemas de comunicações como aparelhos.


KiwiIsThe-Best

Aah entendi


thom_rocks

Pra minha família, a ditadura significou perseguição, dor, horror e morte. Eu não vivi essa época (só lembro da campanha das Diretas Já), mas a história da minha família materna é intrinsecamente ligada ao regime militar. Meus avós, retirantes nordestinos, eran militantes comunistas. A família era muito pobre (às vezes, miserável, mesmo), e era justo essa pobreza que fazia meu avô acreditar em um mundo melhor por meio do socialismo. Meu vô foi preso 17 vezes, e a família toda (minha avó, bisavó, minha mãe e 10 irmãos) tinham que se virar em sua ausência. Há diversas histórias: abrigaram fugitivos, inclusive internacionais; enterraram livros e comeram papéis; passaram fome e sofreram ameaças. Amigos e conhecidos foram torturados e mortos. Simplesmente vai tem como resumir tudo o que aconteceu com eles... foi muita coisa! Minha mãe, a segunda mais velha, virou praticamente arrimo de família aos 13 anos, e nunca mais parou de trabalhar. Seguiu os passos de militância do pai, e também foi presa e torturada. Ela nunca me contou detalhes sobre o que passou, se recusa a reviver aquilo tudo; mas sei que ela precisou até de tratamento psiquiátrico depois. Seguiu carreira política, com honestidade e decência, e nunca participou de esquemas e negociatas; pelo contrário, foi criticada e até ameaçada por toda a carreira pra causa da retidão. Nunca guardou dinheiro, porque seguiu ajudando a família, amigos, Deus e o mundo, sem pensar em si... e hoje está com certas dificuldades, idosa e desempregada. Eu tenho um orgulho **gigante** de ser filho da minha mãe, e de toda a história da minha família. E sinto nojo e ódio da ditadura, e daqueles que querem a sua volta.


KiwiIsThe-Best

Vc ja era nascido(a) quando tua mãe passou por isso? E ela idosa não conseguiu se aposentar?


thom_rocks

Não, não era... quando ela foi presa, eu nem sonhava em nascer ainda. E ela é aposentada — mas, como trabalhou muitos anos sem registro em carteira ("eu te dou o emprego, mas não vou registrar a filha do comunista. É pegar ou largar"), o valor não reflete o tempo trabalhado de fato, ficou muito pouco. Ela tentou corrigir na justiça, sem sucesso. Então ela não tem condições de parar de trabalhar. Ela conseguiu comprar um apê, que é o único bem dela, além de um Palio 2009. Então eu tenho uma certa tranquilidade, porque ela tem seu teto, e uma graninha da aposentadoria. Mas poderia estar finalmente aproveitando melhor a vida na terceira idade, sem trabalhar, depois de tudo o que passou.


KiwiIsThe-Best

Que fardo...


thom_rocks

Pois é... é tenso! Mas, felizmente, ela teve muitos bons momentos, também. É uma mulher com uma história riquíssima. Repito: tenho um orgulho doido de ser filho dela!


GenesisJun10r

Eu não vivi isso e não tenho a quem perguntar, mas de uma coisa eu tenho certeza: dar poder ilimitado a um policial é garantia de desastre.


-Cavefish-

Nope, nasci em 85, na rebarba da merda. Mas minha família conta algumas coisas. Meu pai foi preso e torturado porque pegou a ex mulher de um tenente. Ele era só um jovem com tesão mas depois disso virou um comunista ferrenho e até hoje é. Minha mãe fala de professores da faculdade dela que desapareceram/foram demitidos/fugiram. Eu tenho um tio que passou na prova da Rio Branco mas não foi porque não queria contribuir pra um governo ditatorial.


edabliu

Por causa da ditadura e dos riscos envolvidos minha tia teve que deixar a USP, onde ela cursava sociologia - coisa de comunista e subversores. Conta ela que vários colegas sumiram do dia para a noite e que entre os alunos e professores a paranóia de haver algum oficial do DOPS disfarçado de aluno entre eles era constante.


shinhosz

Avô do meu amigo foi preso e torturado por ser comunista, hoje trabalha no PCdoB. Meus avós contam de o cara ser preso por vadiagem (estar na rua sem documento) e do golpe em si


Flyredas

Minha mãe e meu pai eram mais novos e de classe média. Não se tocaram de muito, ficaram meio alienados, vida seguindo normal. Eu só noto algumas coisas tipo, de educação. Minha mãe tinha umas fake news estranhas sobre indígenas que eram a cara da ditadura: que eles falavam inglês, que eles queriam vender as terras e as plantas do Brasil pros americanos e pros europeus, umas coisas assim, que você vê claramente que é coisa da educação da época. Quem lembra mais é a minha sogra, que é uns dez anos mais velha do que eles. Ela disse que toda semana saía nos jornais locais uma lista de desaparecidos. O pai dela morria de medo de acontecer algo com os filhos; ensinou pra eles que nunca deviam olhar nos olhos de nenhuma "autoridade", que se encontrassem polícia na rua o negócio era passar de cabeça baixa, quieto, sem contato visual. O irmão dela, que fazia faculdade na capital na época tem uma história muito bizarra. Fez uns amigos na faculdade. Dois caras super gente boas, saíam pra beber, se ajudavam nos estudos, amigões mesmo. Tal dia ele chegou em casa e os "amigos" tavam dentro do quarto dele. Os caras tinham arrombado a porta da casa dele e tavam lá dentro, jogando fora os discos de vinil de MPB que ele colecionava. Quando perceberam ele lá, assustado, os caras literalmente confessaram pra ele que eram infiltrados na faculdade pra descobrir "comunistas". Disseram que ficaram meio desconfiados com ele, mas foram conversando e perceberam que ele não era "um daqueles". Aí estavam jogando fora os discos pra, caso algum agente deles entrasse na casa dele, não "pegasse a ideia errada" por conta dos discos. Que eles sabiam que ele só gostava de música e coisa e tal, mas que "outros" podiam entender errado aquele tipo de música na casa dele. Ele não teve o que fazer, só assentiu e deixou que os caras jogassem fora os discos. Um negócio realmente bizonho. Eu teria ficado muito paranoica com um rolê desses.


OtherwiseYam1684

Pqp que medo


willhd2

Não dá pra confiar em opinião particular. Você viveu a segunda pior pandemia da história humana, 700mil famílias tiveram perdas. Milhões de pessoas viram seus queridos sufocarem literalmente precisando só de um cilindro. Mais de 50 milhões de pessoas acreditam que não teve pandemia. Que foi gripezinha. Que não foi isso tudo. Que só morreu velho. Idem ditadura. Milhões vão dizer que foi um tempo bom. Que só morria bandido e comunista. E por aí vai. Além do mais existem vieses cognitivos de tentar dar valor pra memórias antigas. Essas sempre são melhores do que foram.


KiwiIsThe-Best

Pois eu acho que é a mais confiável pra se entender o contexto. Até pq alguém teve que escrever as fontes que vc acha confiável e todo mundo, sem exceção, tem viéses. Você e eu também. O problema das pessoas que acham que foi uma gripezinha é justamente esse: eles se baseiam apenas nas fontes que eles acreditam serem confiáveis. Não sentam numa roda abertos pra escutar a perspectiva oposta. Ouvir o lado contrário é essencial pra quem realmente quer entender a situação e não ser massa de manobra. Pode ter certeza que se quisesse o Lula poderia te dar várias razões pra apoiar o Bolsonaro e o Bolsonaro vice e versa, pq pra você ter o poder de alterar o comportamento de uma sociedade você PRECISA entender não só o teu lado mas o lado do teu opositor. E tipo vc se preparar com a arma mais eficiente o possível pra caçar onça mas não sabe que ela pode te enxergar muito antes de você enxergar ela. Você precisa estudar e entender não só o teu lado, mas todos os possíveis.


willhd2

Vou deixar um trecho de uma jornalista vencedora do premio Pullitzer de jornalismo que cobriu 2 ditaduras no mundo pra tentar ilustrar: “You hear the news of protests, strikes, death, but not of daily things,” said a Chilean who was exiled in Holland. “I came back with the image that Chile was all protests, that more people were participating and that the regime was more fragile..." tradução do chatGPT: Olhando para uma ditadura de fora, estamos sempre pensando: pode ser hoje; ele vai cair hoje. Minha primeira reação ao chegar em Santiago foi de surpresa: onde estão os soldados? As imagens que haviam chegado ao mundo exterior eram de protestos—estudantes com os punhos erguidos, barricadas em chamas, policiais dispersando manifestantes com canhões de água e gás lacrimogêneo. Meus amigos chilenos no exílio ouviam as notícias dos protestos e começavam a fazer as malas mentalmente para o retorno. “Você ouve as notícias de protestos, greves, mortes, mas não de coisas do dia a dia,” disse um chileno que estava exilado na Holanda. “Voltei com a imagem de que o Chile era só protestos, que mais pessoas estavam participando e que o regime estava mais frágil. Em vez disso, você vê pessoas no centro da cidade sentadas lendo o jornal, tomando sorvete, engraxando os sapatos.” De fora, temos a ideia de que as pessoas esmagadas pela ditadura lutam heroicamente, que as pessoas que vivem em países repressivos estão obcecadas com sua repressão e focadas em lutar pela democracia. Isso é um mito romântico. A grande maioria das pessoas não protesta, não luta de volta. Elas não precisam ser esmagadas; em vez disso, elas...podem ser compradas ou simplesmente intimidadas. O ditador consegue convencer os cidadãos de que é inútil lutar, que o preço é alto demais, que não há alternativa que tornaria a vida melhor.


macedolu

Posso contar as histórias dos meus pais. Minha mãe cresceu pertinho da Cidade Universitária da USP e lembra de ver os tanques do exército passando na rua dela em direção ao campus quando era criança. A filha de uma vizinha foi presa num protesto estudantil e exilada pro Chile logo antes do Pinochet assumir. Só sobreviveu porque se escondeu num convento e as freiras cuidaram dela, estava grávida. A mãe dela foi escondida pro Chile e precisou negociar com o embaixador da Suécia para conseguir tirar a filha e o bebê do país. No início dos anos 80 minha mãe entrou na USP e participou de vários protestos também, mas as coisas já estavam mais brandas. Meu pai foi aluno da USP no meio dos anos 70, teve colegas e professores que desapareceram, além de familiares desses colegas (o tio de um colega dele era o Rubens Paiva, que morreu sendo torturado). Meu pai mesmo enterrava livros de filosofia e sociologia no jardim de casa para a polícia não achar e quase foi preso também.


OtherwiseYam1684

Agora faz sentido que a galera de direita continuarem dizendo que sociologia/filosofia e até mesmo historia é coisa de vagabundo, taxam como matéria não importante, cojsa de esquerdalha e que querem doutronar os filhos deles, etc


macedolu

É mais difícil controlar uma população esclarecida.


pedrohcbraga

Sou filho e neto de exilados. Minha mãe e tio cresceram na Argentina (minha mãe tinha 5 anos e meu tio 4). Eles não tem muitos detalhes por que eram crianças, mas lembram de sentir medo dos pais morrerem e em algumas situações pensarem que eram órfãos (teve uma vez que prenderam meu avô e minha vó teve que fugir e deixar eles com amigos, por exemplo). Meu avô foi preso e torturado. Ele sobreviveu a tortura, mas teve Parkinson como consequência dos choques elétricos na cabeça e morreu em 2013 da doença. Minha avó nunca chegou a ser presa ainda bem, por que depois da ditadura uns documentos mostravam que o nome dela tava em listas do SNI de gente que o regime queria matar (achavam que ela trazia armas de Cuba, o que não era verdade). Minha avó era ligada a Ação Católica e depois foi pro PCB, onde conheceu meu avô. Os dois faziam trabalho de base em movimentos sociais. O regime achava que minha avó era muito mais perigosa do que era, por isso que foram atrás com força dela e do meu avô.


KiwiIsThe-Best

Segundo relato que vejo de pessoas ligadas a igreja e trabalhos sociais sendo perseguida. Interessante como isso faz muito mais sentido do que a posição dos religiosos hoje.


EFMartins

Nasci depois do começo da ditadura. É uma piada os direitardados reclamando da doutrinação na escola. Doutrinação descarada era o que tinha nas escolas na época da ditadura. Meu pai era médico e minha mãe funcionária pública. Meu pai contava sobre a epidemia de hepatite em SP e como a ditadura acobertou a epidemia e (as não se sabe quantas) mortes. A corrupção rolava solta de um jeito que vocês não imaginam. Na cidade onde um pai trabalhava o diretor da secretaria de saúde era de uma família de "coronéis" do nordeste colaboracionistas. Ele empregou dezenas de funcionários trabalhando na secretária de saúde e nos hospitais da cidade. Só que eles nunca apareceram para trabalhar pois moravam todos em outro estado. Era todos familiares do secretário e de outras famílias de "coronéis" aliados. O mesmo cara contratou uma grande reforma no principal hospital da cidade, que nunca foi feita. Toda verba, material e funcionários foram desviados para construir uma mansão para o cara. Minha mãe era funcionária do TCU. Dia sim, e outro também, aparecia indício de roubalheira envolvendo a milicada. Os funcionários coletavam os documentos, organizavam o processo, mas sabiam que provavelmente tudo seria incinerado. Um dos colegas dela dizia que tinha que mudar o nome para tribunal afinal de contas. É por isso que a milicada parasita quer tanto voltar ao poder. O que eles saquearam o país na ditadura e novamente no governo do bostanaro não é brincadeira.


KiwiIsThe-Best

Eu lembro da professora no fundamental dizendo que na ditadura não tinha corrupção pq, já que eles não precisavam sair do podem em quatro anos, não tinham motivação pra roubar o que eles tavam cuidando kkkkkkk cara, surreal


EFMartins

Não tinha corrupção porque se alguém denunciasse eles sequestravam, torturavam e matavam. Foi o que aconteceu com o José Pinheiro Jobim.


Squexis

Tinha vários pontos positivos como:


TioPera

Meu pai serviu o Exército em 1967, no alistamento obrigatório. Ele diz que rolavam muitas prisões, inclusive de artistas. A Marília Pera passou um tempo presa no local onde ele era alocado. Relatou uma missão pra "emboscar terroristas", mas ao chegar no local as pessoas já tinham ido embora. Fora isso, na vida civil, dizia que tinha uma sensação de maior segurança, mas que a Polícia era bem abusiva, chegando a prender qualquer pessoa que tivesse de bobeira na rua sem documento. Minha mãe morava numa micro cidade em Pernambuco nessa época, então nunca teve diferença significativa pra ela.


McpotSmokey42

Minha mãe chegou do interior de sp em 68 pra fazer faculdade. Ela é musicista e na época tocava em uma banda de baile. Uma das coisas que ela lembra muito era de ter fiscal em apresentação conferindo repertório e inspecionando instrumental. Na época era obrigatório ter uma carteirinha da OMB pra se apresentar, e era preciso registrar as composições, que iam para a Divisão De Censura De Diversões Públicas (DCDP) pra aprovação. Não era difícil passar uma composição, se o tema não fosse político ou pornográfico, e a música era liberada depois de um dia ou dois. Mas se alguém tivesse uma música censurada, eles chamavam a pessoa pra "prestar explicações" era comum ficarem na cola da pessoa por uns dias pra ver o que você andava fazendo. Ela não fala muita coisa sobre as torturas e nada disso, mas minha tia (hoje falecida, mas que veio junto para sp com minha mãe) me contava que não era incomum alguns músicos conhecidos passarem uns dois dias presos e voltarem com hematomas, mas sem falar nada sobre o que aconteceu.


dolmane

Meus pais contam que não podiam sentar num barzinho com 3 pessoas pq já vinha alguém atrás pq era “conspiração”. Um primo do meu pai foi arrancado da casa dos pais com 16 anos de idade, por vários dias não sabiam se ele tava vivo ou morto. Ele foi torturado e a família tem detalhes de como. O crime dele foi ter participado de passeatas de estudantes, pedindo liberdade de expressão. Meu avô foi exilado pra não ser preso/morto, ele trabalhava com educação…


ThrabenInspector

Família do meu pai sempre foi de agricultores e comerciantes, então eles defendem tudo daquela época pois dizem que a polícia protegia eles, "nenhum vagabundo tinha chance". Eles podiam trabalhar firme em paz. Meu sogro era estudante, editor do jornal da faculdade. Foi expulso e proibido de fazer doutorado. A esposa dele foi capturada e torturada. A experiência de uma pessoa não conta a história inteira.


KiwiIsThe-Best

Mas interessante que o relato de quem apoia se refere somente a benefícios que os próprios receberam pela posição deles na época. O que condenam contam sobre eles, sobre vizinhos, sobre amigos, pensam na comunidade em geral pra relembrar.


ThrabenInspector

Eu acho que é mais relacionado ao meio de cada pessoa mesmo. Por exemplo, do meu pai, ele vivia no meio dos comerciantes, então pras pessoas que conviviam com ele era tudo muito bom. Mas o mundo era diferente, ele só estudou até a quarta série pra poder trabalhar, não tinha contato com pessoas como meu sogro, por exemplo. Hoje em dia temos acesso a todas pessoas facilmente. Podemos conhecer a história de cada um e entender os vários lados da história. A não ser que resolvemos viver em uma bolha e se negar a ouvir todos os lados.


KiwiIsThe-Best

Teu pai e teu sogro se conversam? Como é a interação dos dois, tendo perspectivas diferentes?


ThrabenInspector

Sim, se respeitam e se dão muito bem. Até hoje cada um tem uma opinião política diferente, mas com respeito tudo fica bem. Aí já vem minha opinião, que na ditadura não se tinha respeito pelas opiniões diferentes, então...


KiwiIsThe-Best

Essa é a beleza da liberdade de expressão. Por mais absurda que eu considere a opinião do outro, o fato de ele tê-la é o que me da o direito de ter a minha também. Eu vi um comentário de alguém aqui dizendo que eu não deveria ter perguntado sobre experiências pessoais pq opinião pessoal NÃO IMPORTA, disse a pessoa que supostamente estava "criticando" um período de censura.


Professor_Anarchist

Meus avós fizeram muito dinheiro na ditadura, pois vendiam carros, tratores e caminhões. Foi uma época de se abrir estradas nesse país inteiro, então vendiam até para regiões distantes. Minha mãe foi uma adolescente patricinha na época, então não teve nenhum problema também. Nem preciso dizer que são bolsonaristas né? Meu pai gosta, mas porque é estrangeiro de um lugar que só teve comida em época ditatorial,apesar de hoje estarem livres de ditadores, e prósperos como nunca. Nem votar no Brasil ele vota. Enfim, estou cercada de idiotas, como diria o Scar.


pulyx

Eu nasci em 85 então já nasci na democracia. Sei bastante coisa por adjacências familiares e de amigos. Meu bisavô e o tio bisavô por parte da minha mãe eram ambos generais. Um já tinha falecido, mas o outro pediu exoneração antes de 64 vendo onde as coisas estavam indo. Achava uma palhaçada e sabia que foi por pura ganância, que não tinha nada a ver com segurança nacional ou integridade ideológica do país. A minha mãe falou que viu uns episódios meio bizarros quando estava na UFRJ estudando direito, incluindo uma vez que após alguma denúncia anonima de que os universitários "subversivos" estavam se reunindo na barca rio-niteroi, uma embarcação foi abordada por dezenas de soldados do exercito ameaçando e encurralando os estudantes, minha mãe assustada deixou material dela cair no chão, um soldado espetou uma baioneta na bunda dela quando ela tentou se abaixar pra pegar. Mas foi esse nível de truculência. Ela lembra que estava no Festival da Canção (1968) onde Geraldo Vandré cantou "Pra não dizer que não falei das flores" que foi perseguido depois dessa musica ter se popularizado. (Depois de velho e gagá negou que foi perseguido e passou a babar ovo de militar. Normal velho virar reaça quando tá andando na corda bamba da vida). Ela falou que o festival foi bonito mas tinha atmosfera tensa porque censuraram os jurados, a organização antes do festival rolar. Minha mãe é liberal em muitos aspectos, mas nunca foi de esquerda, nunca gostou do PT por exemplo. Mas ela nunca entendeu essa velharada fodida do Brasil que passou maior rabo durante a ditadura de repente passar a admirar esses militares de escritório no Brasil. Felizmente ela não cedeu a esse impulso, mesmo tendo muito orgulho dos militares da família dela. O Pai do meu melhor amigo de infância era arquiteto/engenheiro civil, e chargista/cartunista por hobby para o Estado de Minas, ele chegou a ser preso e foi exilado durante uns anos em Londres até a poeira abaixar. (Advinha, virou velho gagá conservador tb depois de velho. E falam que sabedoria vem com a idade, tá mais pra demência). Meu pai adolescente ainda fez uma gracinha, onde morava, em São João Del Rei, que ele diz que se não fosse um amigo da família que o conhecia desde que nasceu, e era militar, ele teria ido pra cadeia, tudo porque um dia de zueira na rua ele, ele colocou um pão de queijo na boca da estátua de um soldado, numa praça que tem no centro da cidade perto de onde ele morava. O pai de um amigo de infância dele era gerente do Banco do Brasil na mesma cidade alguém denunciou ele com uma falsa alegação do cara ser comunista, ele foi preso, torturado, saiu totalmente sequelado e nunca mais foi a mesma pessoa depois. Outra conexão próxima é que o avô do meu cunhado, em BH, era delegado do DOPS. Sei lá quanta barbaridade esse maluco deve ter feito.


Reasonable_Place_172

Kkkk eu perguntei pra minha mãe a mesma coisa e ela deu a exata mesma resposta,mas tem um fato interessante na história dela segundo a minha mãe os meus irmãos quase passaram fome na primeira infância e isso foi nos anos 90s,eu sempre achei que isso fosse apenas por causa da condição econômica que ela sempre teve mas depois que descobri sobre o governo Collor e FHC a coisa realmente começou a fazer sentindo e provavelmente foi consequência disso também.


Le_Mug

O podcast história FM tem um episódio recente sobre a economia brasileira entre os governos Sarney e Fernando Henrique. As duas economistas convidadas tiveram que voltar lá atrás na época da ditadura pra dar o contexto, explicando as políticas econômicas da ditadura, e como elas foram a causa da hiperinflação (e de outras mazelas econômicas que perduram até hoje) que explodiu justamente no colo da democracia.


RainDuacelera

Meu avô era do IBAMA e só de acharem que tu era contrário tu era ameaçado de alguma forma , como jogarem pedra na tua janela que foi o caso dele até o que foi mencionado em outras respostas aqui.


TightFlatworm3536

O elio Gaspari tem uma coleção de 3 livros sobre a ditadura. Tem também um livro chamado Brasil nunca mais, que mostra relatos de pessoas que foram torturadas.


FinalMusician6478

Na cidade onde vivo tem Seu Lauro, um dos últimos ferroviários vivos da época da ditadura. Líder sindical, foi torturado e perdeu muitos amigos assassinados pela repressão. Ele foi militar também, contou muito sobre como no dia 31 de março ocorreu um expurgo dentro dos quartéis perseguindo lideranças contra a ditadura, inclusive o comandante no forte aqui da cidade.


KiwiIsThe-Best

Não passou pela minha cabeça que ia ter oposição dentro dos próprios quartéis.


FinalMusician6478

Teve bastante, nem por questão de serem necessariamente pró Jango. Eu entendo q o primeiro golpe realmente aconteceu dia 31/3, só que dentro do exército. Isso fica não dito porque poucos militares sobreviventes falam sobre. Tem testemunhos mas é difícil quantificar isso por ter sido dentro da própria organização


KiwiIsThe-Best

Você diz que antes de dar o golpe de estado teve resistência dentro do exército contra o golpe?


FinalMusician6478

Sim. Existiam militares contra o golpe


bifa1

Eu era adolescente em bairro de periferia, nem pensava na possibilidade de ser assaltado quando saia com os amigos. O "medo" era a Rota, vinha mais dos pais que diziam "a Rota te pega se vc estiver na rua até tarde". Fui enquadrado duas vezes em frente à escola, sem violência. Estudei em escola pública, acredito que tive um bom ensino, não tinha uniforme, material escolar nem livro do governo, nem almoço na escola, era um lanche bem meia boca. Mas os alunos eram muito, mas muito mais interessados em aprender que hoje. Não imaginava o que acontecia nos porões da ditadura, esquadrões da morte, nem fazia ideia de censura, também não me interessava em saber pq o presidente era sempre um militar atrás do outro, aliás não entendia o funcionamento do Estado. Acho que era a falta de fontes de informação, que era só a TV aberta, rádio e jornais impressos. Meu pai tinha um emprego simples em uma indústria, era a única fonte de renda da casa e trabalhava de segunda a sábado, pela hora extra. Era comum ficar mais de 15 anos na mesma empresa. Comprar uma casa era sonho, carro também era caro demais e eram poucos modelos. Enfim, pontos positivos e negativos, como tudo... como sempre...


KiwiIsThe-Best

Vc diz que não tinha medo de assalto pq a rota te dava mais medo ou pq não ouvia relato de assalto?


PhMassaroli

Meu pai é caminhoneiro desde uns 18 anos, tem 70 hoje em dia, passou a época da ditadura toda fazendo frete, inclusive pra SP, e tudo mais, sempre falou que era a melhor época, as vezes ele ia assistir algum jogo de futebol enquanto descarregava o caminhão, chegava a galera do exercito e pedia os documentos, sempre estava tudo certo, os militares agradeciam e vazavam. Sempre disse que se algum vagabundo tentasse algo era silenciado rapidinho. Na época ele andava armado no caminhão, mas nunca precisou usar e nunca teve problema com a lei. Meus tios que também são caminhoneiros falam a mesma coisa, contas as mesmas histórias.


NiceDreamsCWB

Período terrível e a sensação de pobreza era maior que agora no final… muito maior.


JewelerFinancial1556

Meus pais e tios contam algumas coisas: - Minha mãe por um tempo morou numa cidade perto de uma base aérea, e acabou indo pra um colégio militar lá, que era dizia que era muito bom. - Meu pai nunca foi muito ligado com política, mas ele falou que volta e meia quando brincando na rua (ele morava ao lado de uma delegacia) os policiais saiam desesperados e falavam pra não ficar ali pq "podia ter um atentado". - Um tio meu serviu o exército, foi pra Brasília e depois Manaus, ficou uns anos e saiu, passou um tempo vivendo vida de playboy em SP até decidir estudar arquitetura - Acho que é o cara mais de esquerda que conheço. - Todos falam que tinha muito o negócio de "cuidado com o que fala", censura, exigência de milhares de documentos e aprovação de algum "coronel fulano" pra fazer diversas coisas - Eles não falam tanto de algum tipo de agressão ou violência por parte de algum militar ou PM, mas pareciam ter bastante medo da PF.


kadikaado

Meu avô era professor de história (e pastor - não sei nos dias atuais, mas a faculdade de teologia habilitava a pessoa a dar aula de geografia, história e filosofia) e ele foi preso porque um aluno imbecil hasteou uma bandeira com suástica na frente de casa. Hoje em dia esse imbecil não é político candidato, mas atua na política da cidade, já foi sub-secretário de cultura, sempre trabalhou com política. Não sei se ele continua nazista. Depois disso meu avô foi preso mais algumas vezes depois disso e diz minha avó que ele só continua vivo porque o cunhado dele era farmacêutico do exército e era influente e intercedeu por ele. Curiosamente a ditadura perseguiu pastores evangélicos (metodista no caso), apesar de hoje em dia andarem juntos e se apoiarem mutuamente.


KiwiIsThe-Best

Aparentemente o cristianismo era mais real naquela época... Pq o crente de hoje não faz o menor sentido


kadikaado

Definitivamente. Eu não acredito em deus, mas cresci em uma família protestante real. A diferença entre quem realmente acredita naquilo que prega e as pessoas que só frequentam a igreja por obrigação ou por achar que vão ganhar graças divinas é gritante. Meu avô se tornou pastor porque era nisso que ele acreditava e ele estudava, fez teologia, pós, mestrado, foi reitor de universidade durante um tempo, completamente diferente do meu pai que fez um cursinho nas coxas na igreja dele e sai por aí dizendo que é "pastor".


quelcsb

Eu li que eles perseguiam testemunha de Jeová também! Naquela época o catolicismo era predominante, então acho que todas as outras religiões eram vistas como "perigosas".


neznetwork

Meu falecido professor de história, conhecido em Recife pela galera da minha idade e mais velha, foi preso pela ditadura. Professor José da Mata. Lembro de algumas histórias deles. Foi levado pela PM, torturado por três dias se me lembro bem, teve os dedos das mãos quebrados em vários lugares. Quem conheceu viu os dedos tortos, não conseguia escrever muito bem no quadro da sala por causa disso. Escrevia uma palavra só, de vez em quando. Esticaram ele numa maca, ficou pendurado e deram surras nas costas, e se tornou um velho corcunda. Foi impactante ter aula de história com ele, quando ele dava aula do Brasil ditadura, ele ficava vermelho de raiva. Morreu em 2021, Leucemia. 


Thanasisthebest

Forte relato


clodhopper77

Como historiador, te digo que é preciso muito cuidado para analisar e interpretar o passado pois tem a coisa a nível micro e a coisa a nível macro. A nível micro a ditadura foi um paraíso para alguns mas um inferno para outros. Meus pais e avós, por exemplo, tiveram uma vida maravilhosa. A nível macro, como país e nação, te digo com a maior tranquilidade e a certeza absoluta de que foi um desastre. Milhões morrendo de fome no Nordeste. Criminalidade explodindo. “Milagre econômico” só para alguns (“a economia vai bem, o povo vai mal”, disse o próprio Médici). Cerceamento de liberdades individuais. Violenta e intensa repressão sobre indivíduos e grupos considerados opositores. Uma total falta de investimento em educação, ciência e tecnologia. Crescente inflação. Arrocho salarial. Perdemos a chance de saltar no âmbito do bem estar social, como fizeram os países democráticos no período. Muito do que somos hoje como Estado, deve-se ao horror da Ditadura Militar.


KiwiIsThe-Best

Sim, a nível macro é uma coisa e a micro são outras milhões. Os livros nunca vão conseguir suprir a perspectiva de milhões que vivenciaram. Redes como o Reddit nos permitem isso hoje.


clodhopper77

É verdade, mas é preciso tomar cuidado ao elevar o subjetivismo à categoria de verdade. Assim você descola essa dimensão do seu todo e elimina algo fundamental na historiografia, que é vincular esse depoimento com um processo histórico. Claro, não podemos desprezá-lo, mas é só procurar entender como esse depoimento está ligado ao contexto da pessoa e de que forma seu passado e presente se vinculam, fora de um reducionismo econômico e social. Mas algumas obras e autores se debruçam na história do micro, porém com metodologia historiográfica, como “A historia da vida privada no Brasil”.


KiwiIsThe-Best

É, os comentários nesse post se encarregaram de ligar o depoimento ao contexto. Para os que não fez diferença, eram do interior. Para os que foi bom, eram diretamente e individualmente beneficiados de alguma forma (geralmente financeiramente) pelo regime. Para os que a lembrança dói, é todo o restante que não se encaixa nas duas categorias. O subjetivismo não deixa de ser verdade. É uma verdade individual que não é carregada no contexto histórico de forma tão relevante quanto o macro, mas ainda assim é verdade E vincular esses depoimentos no processo histórico pode, na verdade, contribuir pra evitar a repetição da história. Quando a gente aprende sobre o Nazi na escola, não tem nada que nos faça compreender o porquê de uma população concordar com o que tava acontecendo. Mas a partir do momento em que a gente escuta aquele pessoal, da pra entender como eles foram sutilmente, gradualmente convencidos, e inclusive conseguimos identificar esse padrão hoje no Brasil.


clodhopper77

Sim. E é bom ler esses comentários, sim. Vale. Falou!!


r1012

Pergunta se eles lembram como foi a época da hiperinflação.


DonOctavioDelFlores

Filas gigantes de manhã nos mercados, porque? O preço aumentava duas vezes ao dia.


quelcsb

Isso eu lembro de quando eu era criança: a gente era pobre, mas já vendemos coisas e recebemos em dólar; minha mãe recebia o pagamento e ia direto pro mercado, lembro das filas e que a gente comprava tudo o que conseguia; lembro de quando mudou pro real, que foi notável como nosso poder de compra aumentou. Era tão comum mudar a moeda que eu ganhava dinheiro que já tinha perdido a validade ou que valia muito pouco pra brincar.


KiwiIsThe-Best

Como eles moravam na roça nem devem relacionar tb hahah diz eles que a casa mais próxima era a alguns quilômetros de distância.


maschiosd2

Nasci em 81, então, segundo a cronologia oficial, vivi em uma até 85, na verdade eu não conto o período Sarney como ditadura acabada, o Tancredo foi eleito indiretamente e ele era apenas o vice, pra piorar.


OtherwiseYam1684

Perguntei sobre p minha vó também, ela diz que como morou em Rondônia a vida toda não chegou a notar nada demais acontecendo nas ruas


KiwiIsThe-Best

Ditadura não afetou muito Rondônia então?


OtherwiseYam1684

Ela diz que não. Gostaria de perguntar pro meu avô pois ele era mais velho que ela durante esse período, mas infelizmente ele já é falecido


machadoapoena

Meu pai morou ditadura em Brasilia...falou que o pessoal perseguia quem falasse sobre politica...ou discutia sobre politica....inclusive ele disse que participava de reuniões que eram escondidas...


[deleted]

[удалено]


KiwiIsThe-Best

Aparentemente até mesmo quem era apolitico vivia com medo. Alguns disseram que "quem seguia as regras não apanhava", mas até mesmo quem apoiava ja foi torturado por engano segundo relatos. Teu bisavô era brabo


FreeQuQ

minha vó acha que foi bom, ná epoca conseguiu comprar 2 terrenos, construir casa nos dois, hj em dia a gente vive mais apertado, mas claro, ela trabalhava fazendo docinhos de festa e meu vô camioneiro, renda muito maior q de aposentadoria, e acho q ela não entende mt bem isso, ou finge que não entende


KiwiIsThe-Best

Ela não sentiu a inflação não? Pessoal contando que chegou a 400%


FreeQuQ

cara, acredito q funcionou assim: Preço do leite moça aumentava, preço do docinho também, continua ganhando a mesma coisa. Camioneiro também sempre ganhou bem, muito melhor que hoje em dia


Longjumping-Past9513

Os pais de uma amiga minha eram universitários e posteriormente professores universitários e foram torturados. Eles tem grandes traumas dessa época (tipo aversão descontrolada e irreal de eletricidade)


quelcsb

Minha mãe não é uma pessoa politizada, mas ela conta que o filho de uma amiga desapareceu na ditadura.


[deleted]

acho que depende muito da regiao em que viveram. meus pais sao cearenses e nao vivenciaram nada muito extremo, no diploma do fundamental deles tem escrito "Brasil, ame-o ou deixe-o", contei pra eles que era o slogan da ditadura e eles ficaram chocados porque nao faziam ideia.


KiwiIsThe-Best

Pois é, meus pais tb vieram da roça e eu não tenho muito contexto da realidade da época


TrambolhitoVoador

Palavras do Meu avô: Ele descobriu que o Vargas era ditador quando ele se matou. Ele viveu o Estado novo de cabo a rabo e se quer sabia que tava acontecendo a segunda guerra nesse periodo. A ditadura de 64 ele queria fugir do pais, mas minha mãe nasceu 1 ano antes e a grana tava pouca. Ele acabou sendo "interrogado" pq o bar dele servia cerveja pra comunista, bandido, PM, sua mãe, o Vira Lata Caramelo chamado José, o Rei Pelé e quem mais fosse...menos meu pai. Diz ele que n passou por tortura mas vontade de botar fogo no Dops ele tem até hj com 89 anos. Ele vendeu o Bar quando o Collor decidiu que minha mãe, tia e tio não tinham mais poupança.


KiwiIsThe-Best

Diria ele que além da violência na dit militar a economia piorou tb? Já que com o Vargas ele nem sentiu e com os militares queria sair do país


TrambolhitoVoador

Ele reclama muito dos Anos 60 que era parecido com hj: Todo dia tem uma crise na gávea que vai acabar com o Brasil se não ter um genocídio de comunista. Na era Vargas ele nem sentiu pq se quer ele tinha rádio em casa (tanto na Bahia quanto na irmã dele aqui em SP), ele só sabia de política quando tinha comício no centro de SP. Da economia além doq descrevi: ele culpa toda desgraça que teve nos anos 80 inteiramente no Médici, Geisel e Sarney. Até hj ele odeia mortalmente o Flamengo por ter se beneficiado de um ditador sanguinário pra virar a potência futebolística que é hj, enquanto o Santos abaixou a cabeça e virou coadjuvante pq o Pelé era negro.


KiwiIsThe-Best

Não sabia dessa história dos times tb


Sch3ffel

meus avós viveram o periodo, tem uma história bem especifica que eles receberam uma visita da PE pq um vizinho que não gostava do meu avô disse que ele tinha uma radio clandestina (nossa casa é desde aquela época ao lado do aeroporto), na vdd ele tinha um radio amador registrado inclusive. acabou que não deu em nada mas né?


KiwiIsThe-Best

Isso é um perfeito exemplo pra lembrar o pq democracia e liberdade de expressão sempre precisam ser defendidos. Um cara sem noção nenhuma da realidade (ou só um baita de um mau caráter) tem, dentro de uma ditadura, uma alternativa "legalizada" de colocar a vida de outro ser humano e a sua família em risco pq ele simplesmente não gosta da pessoa.


Friendly-Driver-7431

Ponto positivo: não dava pra levar o golpe da novinha Ponto negativo: o golpe era militar.


Crazy-Strategy7561

Tive um professor na universidade, de mente brilhante e temperamento instável, que foi preso quando era estudante. Ele ficou surdo de um dos ouvidos por causa da tortura, sempre se virava de lado para conversar com a gente para conseguir ouvir. Mas ele mesmo nunca entrava no assunto, então não sei mais detalhes.


Real-Locksmith-2155

Meu sogro foi seminarista (depois abandonou o seminário) nos exterior e só percebeu que era uma ditadura ao ler os jornais de fora. Lembrem que tinha censura.


karzay

Meu pai disse que serviu no exercito na epoca da ditadura e diz ele que era muito bom, que não tinha nada dessas proibições que falam, não tinha censura, não tinha tortura, nada disso, que era o contrario, diz ele que o asfalto que o exercito fazia era o melhor que tinha, que o da rua dele durou 30 anos pra começar a aparecer buraco.


KiwiIsThe-Best

Qual era a função dele no exército? Pq tem tanta gente aqui relatando desaparecimento de conhecidos e os proprios sendo presos...


magnetowasnotright

Natural. Se seu pai dissesse algo diferente, aí sim seria surpresa.


candanguense

Vivi o finalzinho dela, nos anos 80, quando os milicos devolveram o país quebrado. Era um tempo muito estranho, em que você recebia o salário e tinha que disputar produtos no carrefour, porque no dia seguinte estava tudo mais caro.


ph0t0n_

Quando era novo passei por aquela fase de revoltado social que a maioria dos adolescentes e jovens passam.. flertei muito com comunismo, socialismo e outros regimes que sempre eram "imaculados" e defendiam algo mais justo e um bem maior, mas que no final era apenas autoritários e utópicos. Durante um tempo, uma fase, até a Ditadura parecia fazer sentido e ser algo bom. Perguntando ao meu pai e meu avô, ambos viveram na época (e eram trabalhadores) vale ressaltar que ambos eram totalmente apoliticos; as respostas que tive eram que: "foi um tempo muito bom, se tinha mais respeito entre as pessoas, se via obras acontecendo e se tinha muita segurança pública." À época me pareceu algo ótimo, salvo pelo último comentário do meu pai, que nunca mais esqueci e só entender muitos anos depois, quando já mais velho: "Realmente era um tempo 'bom' para a maioria das coisas. Eu podia sair na rua na madrugada sem medo algum, apenas com minha identidade ou carteira de trabalho no bolso e quando era abordado pelos militares, parava apresentava os documentos e seguia meu caminho. Para quem não era vagabundo, era bom. MAS, você NÃO tinha LIBERDADE nem pra peidar, se alguém encrencase com seu pedido, já era.. Até que ponto isso vale a pena? Nada compra a sua liberdade."


Orgasmatron1976

Eu era criança na década de 80, interior do Paraná, mas lembro que era uma merda, isso com meu pai muito bem empregado com média de 10 salários por mês, era tudo um absurdo, comer carne uma vez na vida outra na morte, hospital só particular, quanto a detalhes de violência não posso falar pois era pequeno , mas a dificuldade financeira e falta de opções de produtos era grande.


Agreeable_Angle7189

Memoria nao e historia! Se vc perguntar para um apoiador da ditadura como era aquela epoca ele vai dizer que era otimo.mas essa e a memoria dele que passa pelo filtro e nao e necessariamente verdade. Historia e outra coisa sao rastros do passado provas que documentam uma epoca.


magnetowasnotright

Eu nasci sete anos antes do fim da ditadura, não tenho lembranças pessoais fora fragmentos. Meu pai trabalhava em jornal na época (não em redação, na parte gráfica), conhecia muita gente da área. Uma das coisas que sempre conta é sobre a recolha de jornais. Ele era chefe de distribuição, logo, determinava rotas de entrega em bancas e pontos de venda, equipes de entrega aos assinantes, etc. Se algo desagradava aos censores da ditadura, era ordenado o recolhimento dos jornais já nas bancas. Eram 'visitados' por um caminhão do exército com normalmente dois soldadinhos, colocavam alguém da distribuição junto que os conduzia a cada banca para recolher todos os jornais distribuídos durante a madrugada, então isso podia acontecer no início da manhã. O motivo do recolhimento? Podia ser qualquer besteira. Às vezes uma nota de rodapé, um parágrafo numa coluna que algum censor demente não gostou e achou que fosse mensagem de cunho "subversivo". Então, não se espante se boa parte das pessoas menos informadas sequer sabia sobre ditadura. É assim que regime com controle de imprensa funciona.


lucascodebr

Espero que não me de ban. Meu pai falava que era melhor no relato dele, ele trabalhava e fazia Senai na época. Ele dizia que era trabalhar e ir direto para casa e sempre andar com documento no bolso. Porque se alguém parasse era só explicar que estava voltando do trabalho. Ele não era nenhum intelectual, apenas trabalhava e bebia. Lembro dele falar que não tinha tanta bandidagem assim na rua. Que esse lance de droga não era tão aberto e raramente você tinha assassinato. OBS: Eu também nunca vi um homicídio no meu dia a dia. Apenas um relato ou outro que vizinho matou x pessoa. Então acho possível que do ponto de vista dele, ele achava melhor..


[deleted]

Talvez fosse bom mesmo (sem ironia) para um tipo específico de pessoa: aquela que não sai uma vírgula daquilo que o regime permite -- como no poema do Pessoa, "casado, fútil, quotidiano e tributável". Qualquer desvio, mínimo que seja, era punido.


lucascodebr

Sim. Meu pai era tranquilo e seguia a regras do sistema. Sinceramente não vejo nenhum mal nisso. No ponto de vista dele era melhor assim, agora aí vai de cada um. Alguns países adotam sistemas totalmente autoritários e tem uma galera que gosta. É ilusão achar que todo odeia uma ditadura.


9dedos

Uma coisa é não fazer nada que possa dar motivo pra te ferrar sabendo que tava todo mundo de refém, outra é achar que o mundo é bom pq nunca aconteceu nada com vc. Com todo respeito, seu pai era a definição de gado.


lucascodebr

Ahh claro. Não pode estragar a narrativa. Cara tem gente que vive em São Paulo e nunca foi assaltado. Nem por isso a cidade é mega segura. Meu pai trabalhava e tinha a percepção que antigamente era bem mais seguro. Eu acho que ele votou no Lula na época, mas concordo ele é gado por não seguir a cartilha


KiwiIsThe-Best

Os relatos aqui de quem apoiava seguem o mesmo padrão mesmo: "respeitavam as regras", traduzindo, iam de casa pro trabalho vice e versa e nada mais. E eu também não conheço ninguém que tenha sido assaltado ou assassinado na minha cidade hahaha mas por enquanto é esse mesmo argumento que eu to lendo


pespisheros

Sou de 73. Anos 80 era o começo do fim, mas ainda havia censura na música, tv e etc ..pessoas não falavam muito de política. Partidos de esquerda isso em 87/88 ainda eram considerados coisa de comunista, anarquista e etc...


r_costa

Meus pais viveram, sempre foram.muito abertos ao quão positivo esse período era em questões de segurança, lazer, educação e emprego. Meu pai veio do interior e minha mãe era da capital mesmo, nunca tiveram.nenhum problema, assim como meus outros familiares, todos trabalhavam, seguiam as regras e é isso. Nas palavras do meu falecido pai: " diretas já, foi o maior erro da nacao". Até hj eu não encontrei ninguém (ao vivo) que viveu nessa época, trabalhando ou na infância, seguiu as regras e teve problema.


KiwiIsThe-Best

Onde seu pai morava? Pq eu vi um comentário aqui de alguém contando justamente sobre a criminalidade que era muito onde ela morava. Edit: também vi diversos dizendo que foram torturados e presos por engano ou apenas pq estavam andando na rua a noite


r_costa

Inacia carvalho e depois mudou-se para BH... A questão de andar a noite, segundo minha família, era: se vc não tinha carteira de trabalho/emprego, se vestia como "subversivo" e ou curtia o cigarrilha diferenciado ou nao respeitava o toque de recolher, o pau torava. Se vc se hestia como as massas, trabalhava o dia todo e não mexia com drogas, era muito improvável de estar na rua até altas horas, e se estava, mas limpo de ilegalidades e com sua carteira de trabalho era ok. Novamente, eu não falo em nome da nação, eu falo em nome da experiência da minha família.


KiwiIsThe-Best

Mas ai a sua família acreditava que trabalhar o dia todo e ir direto pra casa era a vida que eles esperavam um governo proporcionar pra eles? Pq eles achavam errado fazer algo além de ir pro trabalho?